Instituto DEMOCRATIVA participa de evento na FIESP: É possível reduzir a taxa básica de juros?
(03/10)

Lutando pela a redução da taxa básica Selic e se interessando por todas as ações em prol da diminuição das taxas de juros, o Instituto Democrativa acompanhou no dia 3 de outubro, o seminário: ?É possível reduzir a taxa básica de juros??. Idealizado pela FIESP e realizado na sede da empresa em São Paulo, o evento reuniu empresários e economistas para discutir quais seriam as melhores saídas para o questionamento.  

Para abrir a reunião, foi dada a palavra ao vice-presidente da FIESP e diretor da DECOMTEC, José Ricardo Roriz que iniciou lembrando que é uma continuação do encontro realizado no mês de setembro com a presença do ministro Henrique Meireles. Ele fez uma breve apresentação da proposta principal do seminário: debater e escutar ideias e opiniões sobre a taxa básica. 

Criada em 1996, a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) foi criada em 1996, a primeira meta só foi divulgada no ano de 1999. Hoje, ela é definida a cada 45 dias pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil), atualmente é mantida nos 14,25%. 

Entre os slides utilizados na apresentação estavam alguns que mencionavam os questionamentos: a taxa de juros é muito alta. Por quê? Quais os efeitos? É possível reduzir? Foi apontado que o País tem uma taxa de juros cinco vezes maior que os outros países da América Latina e se compararmos à zona do Euro, o Brasil está em 5.73 %. Em geral a taxa é de 0,47 em países emergentes e os outros países com taxas abaixo de zero. Entre 2000 e 2015, o Brasil esteve 2.6 acima da regra de taxas de juros. ?No período do ministro Henrique Meirelles a taxa sempre esteve acima. No período Alexandre Tombini, quase chegou à proporção. Não se pode baixar a taxa de uma vez, relembre o período Tombini?, disse Roriz. 

Fatos que não compravam a alta taxa de juros

O vice-presidente da FIESP apontou quatro pontos que são utilizados para justificar a alta da taxa de juros e discorreu desmistificando tais argumentos: 

Resultado primário insuficiente: de 2005 a 2015 é elevado e positivo, mas mesmo assim os juros eram altos e acima da regra de paridade.  ?A proposta é de que o ajuste fiscal seja feito ou teremos uma década perdida. Com o teto dos gastos e outras soluções estamos em um cenário favorável, espero que não sofra nenhuma modificação no Congresso. Em 2011 e 2015, o Brasil mantinha a maior taxa de juros, mas ainda com resultado primário bem melhor que outros países?, justifica Roriz. 

Elevado nível da dívida pública: somos o 4º maior em comparação com outros países. ?Há outros países que tem uma taxa de juros bem mais baixa, e elevado número de dívidas públicas, então isso não é justificativa. Entre 2014 e 2015 a Índia manteve a taxa de juros menor que 3,5 e teve o maior crescimento do mundo 15,3%  e com ma dívida pública maior que a nossa. Isso, serve de exemplo?, aconselha Roriz.  

Prazo curto da dívida pública: isso faz que fique mais concentrada do que em outros países. A parcela de curto prazo do Brasil é maior aos países comparados como Austrália, Alemanha, EUA, Portugal.  

?Não se pode justificar por meio dos itens citados acima, a discrepância do juro real brasileiro, visto que muitos passam por situações parecidas. Atualmente, a dívida está em 430 bilhões ou 7% do PIB. Um aumento de 1% da Selic causa impacto de R$ 926,3 milhões ao mês no pagamento de juros da dívida pública. Não há países emergentes com elevada taxas de juro e alto crescimento do PIB. O Brasil apresenta elevados juros e crescimento do PIB abaixo da média dos emergentes. Recentemente foi publicado que 49% das empresas não estão conseguindo pagar os juros. O consumidor não consegue pagar ou refinanciar suas dívidas em cheque especial e empréstimos. A Selic elevada impede o crescimento do mercado de crédito e de capitais do Brasil?, exemplificou Roriz. 

Outro apontamento foi o desalinhamento cambial que se torna responsável pela desindustrialização, de acordo com Roriz, mesmo antes de reformas fiscais é preciso reduzir a taxa básica de juros, ele mostrou exemplos de que em janeiro deste ano, a inflação estava a 10.7% e a Selic 14.25% e mesmo agora em julho que a inflação caiu para 8.7% a Selic permaneceu a mesma. ?Os juros aumentaram muito no último semestre. A confiança aumentou, mas não pode confundi-la com alívio. Ela é apenas um termômetro do risco. No final de 2017 que a inflação esteja 5.1% e a SELIC 11.0 %, a confiança não está inspirando a melhora do risco?, falou esperançoso o vice-presidente da FIESP.  

Propostas da FIESP

Ainda com a palavra, Roriz frisou que é necessário que os juros sejam cortados, pois as empresas não têm para onde correr, somente com a redução dos juros poderá haver recuperação da atividade econômica e da arrecadação tributária, que é condição fundamental para o ajuste fiscal. 

Para ele se houver comprometimento do Governo haverá mudanças eficazes até 2018, ?mesmo em um período curto de trabalho, o Governo está caminhando bem, reforma da previdência, PEC dos gastos, mas deve haver ainda um ajuste fiscal?. 

No material apresentado havia ainda uma previsão de como o Brasil estará em 10 anos, se não houver a reforma: o PIB sobe para 15,7%; a dívida bruta iria para mais de 67%, a carga tributária chegaria a 44%, o país iria quebrar. A taxa de emprego subiria, por exemplo, para 14%, porém, se houver a retomada econômica a taxa de desemprego cai em 6%, bem como todas as outras taxas. 

Presente na bancada, o vice-presidente da FIESP e presidente do sindicato nacional da indústria do Rerrefino de Óleos Minerais, Nilton Torre de Bastos disse sobre a apresentação de Roriz: ?ele colocou tudo dentro de uma lógica que efetivamente contempla a ideia da indústria e o que precisamos para o nosso País. Quando elegemos o Paulo Skaf tínhamos um conceito ?é bom para o Brasil é bom para a indústria?. Os juros no Brasil são insanos, não tem onde se apegar a nada, não há comparação em nenhum lugar do mundo. Sofremos com a incapacidade de importar por conta do cambio. Empresas aqui ainda precisam competir com esses juros absurdos. Temos que criar valores em cima de matéria prima e mão de obra e elas estão sendo confiscadas por confusão. Não estamos conseguindo pagar os impostos. Nos EUA o funcionário trabalha 60 horas por semana e tem crescimento do salário. E não se há a necessidade de controlar aquele horário é uma preocupação com o transporte com a saúde dele com o retorno do que aquilo proporciona. Não é como o Brasil?, explicou Bastos.

O professor da FGV, Fernando Barbosa fez uma observação, mencionando o artigo do ganhador do prêmio Nobel, Robert Emerson Lucas e seguiu dizendo que ?nenhuma medida surge de Brasília, ela surge pela opinião, pelas eleições, pelo envolvimento. Nós temos que entender as razões políticas. O Brasil é o resultado da escolha da sociedade brasileira, ela tem escolhido taxas de juros?.  Após menção, o economista fez uma explicação entre os juros naturais e a taxa de juros real, e mencionou que o Brasil, infelizmene, levará muito tempo para se recuperar. ?No governo Lula com o (Antonio) Palocci, houve uma economia social, mas logo em seguida foi apresentada uma neoeconomia implantada em países da América Latina e não funcionou?.

Roriz pediu novamente a palavra expressou que está ao lado do Banco Central e do Governo, e que na verdade o que buscam com reuniões como esta é o ajuste, o crescimento econômico gerando uma menor taxa de desemprego, bem como, por exemplo, a questão da previdência e a PEC dos gastos que irá retornar em saúde e educação. ?Com esse cambio e juros, não haverá investimentos, o presidente do Banco Central precisa baixar nem que for 0.25 para conquistar credibilidade, enquanto isso, vamos buscar alternativas. Como é que países com baixo investimentos em poupança conseguiram reverter isso??

Com a palavra, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves explicou que ?se não cresce, não se arrecada. Vai ser muito difícil essa retomada. Mas a nossa expectativa é um corte na próxima reunião. Sendo até um pouco pessimista, não é possível ter a ilusão de que isso irá se reverter de uma forma tranquila. O Governo tem apontado todas as suas limitações, não vejo a necessidade de tomar uma atitude e depois outras, elas andam em paralelo?, disse. 

O ex-presidente do Banco Central e diretor da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo apontou oito anos de políticas irracionais e completou dizendo que a população aplaudiu, ?agora que estamos discutindo gastos públicos, nunca discutimos isso, se conseguimos evitar o crescimento anual, isso é um avanço estrutural da economia, mesmo que seja lento. Uma consequência do ambiente e que estamos produzindo, incentivar estudo do Banco Central para justificar as causas que justifiquem de fato a taxa de juros e discutir, levar medidas ao Congresso?.

O diretor da Fundação Getúlio Vargas, Yoshiaki Nakano explicou que a taxa cresce por uma questão de sobrevivência do país perante às taxas mundiais. ?É um conjunto de fatores que explicam as altas taxas de juros no Brasil, quando se aumenta a taxa você comete um erro grave. Estamos à beira do precipício precisamos e espero que sejamos capazes de resolver antes de chegar o precipício. Uma parte da sociedade pelo menos acordou e temos soluções inteligentes teto de gastos, reforma da previdência e reforma trabalhista?, falou.

O especialista ainda contou que estava lendo as primeiras edições da revista Conjuntura Econômica e que já apontava que o Brasil tinha as maiores taxas de juros. ?Isso há 70 anos, ou seja, temos essa tendência persistente de fazer os gastos públicos expandirem. Há a necessidade de mudar a forma de estrutura econômica, o modo de pensar não está correto. Não precisa nem criar nada novo, há exemplos nos bancos centrais de países como: Inglaterra, Japão e outros?.

Com o encerramento da apresentação do especialista, houve debates com pessoas convidadas à bancada. Com a palavra novamente, Roriz ressaltou: ?não vamos resolver o Brasil hoje, mas vamos identificar com a ajuda dos especialistas quais são os pontos de vistas para a causa e assim buscar a solução?.

E o professor Fernando Barbosa completou: ?o economista virou bombeiro, só é acionado para apagar incêndios, cadê o plano político econômico coerente para que não haja fogo? Tenho condições de pagar minha saúde, por exemplo, mas na sociedade há quem não consiga pagar pela saúde, educação e moradia, e assim eu tenho que pagar muito mais impostos para dar essas condições a eles, o país é extremamente injusto?.

Também presente na reunião, o doutor em economia, professor das Faculdades Alfa e membro do Instituto Democrativa, Marcelo Ladvocat disse: ?precisamos de mudanças estruturais, rever previdência, rever todas as questões que passam pelo Congresso, mas são questões que demoram a ser resolvidas, e a urgência está aí, o caminho mais rápido para resolver essa situação absolutamente emergencial é por meio dos juros?.

Luiz Fernando Figueiredo mencionou que eventos como o realizado pela FIESP, em que se  discute as taxas de juros são muito importantes. ?Pois o Brasil realmente tem as maiores taxas de juros do mundo, senão a maior, ele precisa entender quais são as causas para isso, então um debate como esse começa a trazer à tona o porquê o Brasil tem essas taxas tão altas, então foi uma manha inteira discutindo, foi muito bom, e precisamos perseguir mais isso, pois o custo que o Brasil paga nas taxas de juros é muito grande e não dá, já aprendemos varias vezes, reduzir os juros voluntariamente precisa trabalhar nas causas para que não seja isso?.

Após agradecimentos, Roriz mencionou que o seminário é parte de uma série de eventos que a FIESP está fazendo para escutar especialistas, professores e, principalmente o pessoal ligado à produção e à indústria. ?Tudo isso para que tenhamos alternativas e propostas para o Governo para sair o mais rápido dessa crise. E sair de uma maneira em que planejemos o país a médio e longo prazo e não como tem sido que passamos dois anos bons e depois seis anos ruins. Então temos que fazer algo consistente, embasados em informações e debates para que a qualidade das propostas sejam melhores?, finaliza.